quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Síndrome do Intestino Irritável


A gastroenterite pode ativar os sintomas da síndrome do intestino irritável (SII) em pessoas sem história prévia da síndrome, mas que têm tendência à ansiedade e à depressão e cultivam altas expectativas de desempenho, muitas vezes irrealistas, por exemplo, são perfeccionistas e apresentam em suas atividades do dia-adia um padrão de comportamento do tipo tudo ou nada. 

A observação vem de um estudo prospectivo com 620 pacientes com gastroenterite, infectados pela bactéria Campylobacter, o qual foi realizado pelas pesquisadoras Meagan Spence, da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, e Rona Moss- Morris, da Universidade de Southampton, Reino Unido, e publicado em fevereiro no jornal Gut. Para compreender a relação da SII com o humor, os fatores de personalidade, o comportamento e, ainda, a maneira de lidar com a doença e seus sintomas, as pesquisadoras selecionaram pacientes que não tinham história prévia da síndrome nem outra doença intestinal.

Eles foram convidados a responder a um questionário que incluía medidas- padrão a respeito de humor, percepção do estresse, perfeccionismo, sentimentos negativos em relação a doenças em geral, entre outras sensações. O principal objetivo do questionário era identificar atitudes de risco capazes de determinar a emergência da SII em um período de seis meses após a infecção. O diagnóstico da SII seguiu os critérios previstos no consenso Roma I e II, uma vez que o estudo é anterior aos critérios do Roma III, definidos em meados de 2006. A SII é uma das disfunções intestinais mais freqüentes.

Estima-se que 10% a 15% da população adulta no Ocidente apresente o problema. O paciente com a síndrome não produz os movimentos peristálticos normais do intestino, o que leva a eliminação desregulada das fezes. Os principais sintomas são dor ou desconforto abdominal, distensão abdominal e sensação de estufamento, alternância entre períodos de diarréia e constipação, flatulência, sensação de evacuação incompleta e fezes de pequeno volume.

Não há testes que detectem a SII, portanto o diagnóstico se dá por exclusão. Até hoje nenhum medicamento teve sua efi cácia comprovada no tratamento da SII. Cuidados com a alimentação são indispensáveis sempre e o uso de remédios só é recomendado em algumas fases da doença. Em alguns casos, o uso de antidepressivos é indicado, visto que a síndrome está relacionada a fatores psicológicos. 

"Não há uma causa que explique adequadamente os sintomas da SII, e a ausência de um entendimento estrutural da patologia tem polarizado o debate etiológico sobre a SII em torno de uma cisão entre corpo e mente", observam as autoras do estudo publicado no Gut. Mas já se reconhece, nos últimos anos, a necessidade de usar um modelo que integre os fatores biológicos e psicológicos para explicar a heterogeneidade das características dessa condição.

O intestino é considerado um segundo cérebro por ter um sistema nervoso próprio com uma rede de 1 bilhão de neurônios e ser responsável por 95% da serotonina produzida no corpo humano. É a serotonina que ajuda a regular a motilidade do intestino. Isso explica a relação estreita entre ansiedade, estresse e somatização que é associada com essa síndrome, diz Flavio Steinwurz, atual presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD) e governador do Colégio Americano de Gastroenterologia, além de médico do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (Hiae). 

"Até seis anos atrás, a SII era tida como algo de origem puramente emocional, mas descobriu-se que indivíduos com a doença apresentavam baixos níveis de serotonina e que medicamentos que regularizavam a quantidade desse hormônio no intestino melhoravam seus sintomas", diz o Dr. Steinwurz. "Até hoje não se sabe se os baixos índices de serotonina provêm de causa psicológica e interferem na harmonia do movimento peristáltico ou se é a falta de regulação da motilidade que causa a falha na produção do hormônio e, em conseqüência, esses efeitos psicológicos nos pacientes", ressalta.


Fonte:
Spence MJ, Moss-Morris R. The cognitive behavioural
model of irritable bowel syndrome: a prospective
investigation of gastroenteritis patients. Gut. Published
Online First: 26 February 2007.

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