segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Doenças Negligenciadas: da Relevante Mortalidade à Inexpressividade Financeira

Com baixa prevalência em países desenvolvidos e predominando como tropicais, certas doenças não apresentam atrativos econômicos para que a indústria farmacêutica desenvolva novos fármacos. As doenças mais comuns classificadas nesse grupo são leishmaniose, doença do sono, tuberculose, malária, esquistossomose, hanseníase, dengue e doença de Chagas.


Etima-se que um total de 1 milhão de mortes ocorram por essas doenças no mundo todos os anos, o que dá uma média de 3 mil mortes por dia! Não possuem tratamentos ou os existentes não são os mais adequados. Os tratamentos são de 30, 40 ou 50 anos atrás e muitas vezes são mais maléficos que a própria doença.

A doença de Chagas é um exemplo clássico dessa negligência. Causada pelo protozoário Tripanossoma cruzi, sua apresentação é silenciosa na maioria dos casos. Como é transmitida principalmente por insetos (barbeiros) que vivem em locais de habitação precária, praticamente inexiste em países desenvolvidos. Desde sua descoberta por Carlos Chagas, em 1909, os únicos medicamentos desenvolvidos no decorrer dos anos para combater a doença foram o nifurtimox e o benzonidazol, ambos muito tóxicos, com efeitos colaterais importantes e quase sem efeitos na fase crônica, quando a maioria dos casos é descoberta.

A malária está presente em 110 países do mundo e ameaça cerca da metade da população mundial, concentrando-se na África Subsaariana e na Amazônia americana, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde. É importante causa de mortalidade em crianças menores de cinco anos na África, com custo estimado de US$ 1,2 bilhão de dólares anuais apenas na África. Quando não mata, a morbidade é alta, pois os prejuízos são diretos na educação de crianças com aumento da repetência escolar. Estima-se que só na África a doença cause um retardo de crescimento de 1,3% em áreas com alta endemicidade. As drogas utilizadas no seu tratamento não acompanharam a evolução da resistência, e são comuns descrições de pessoas com 20 ou 30 infecções por malária durante a vida.

Investimentos
Os dados referentes a investimentos nessas doenças são alarmantes. Em 30 anos (de 1975 a 2004), apenas 1,3% dos medicamentos novos lançados no mercado era para doenças negligenciadas (gráfico).

O Brasil é o país em desenvolvimento que mais investe na descoberta de novos medicamentos e em estudos para essas doenças, sendo o sexto no mundo em investimentos. No ano de 2009, foram investidos US$ 37 milhões de dólares, dobrando o investimento em relação a 2008. Essa iniciativa está relacionada ao setor privado apenas em pequena parte, mas na sua maioria é feita por incentivo governamental ou organizações não governamentais.

DNDi
Esta é a sigla em inglês para iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas. Representa uma parceria para o desenvolvimento de produtos sem fins lucrativos, mas com a finalidade de pesquisar e desenvolver novos medicamentos para essas doenças. 

Foi criada pela ONG Médicos Sem Fronteiras, com ações importantes associadas a países de todo o mundo, como o Instituto Pasteur na França e FIOCRUZ no Brasil, tendo atualmente subdivisões e estrutura segmentada, como a DNDi América Latina. Em sua página na internet (www.dndi.org), apresenta informações sobre essas doenças, estratégias para combate e apresentação de novos medicamentos desenvolvidos pela iniciativa. Assim, medicamentos como a combinação de artesunato + amodiaquina para malária na África; combinação de artesunato + mefloquina para tratamento de malária na América do Sul; e nifurtimox + eflornitina para tratamento da doença do sono na África são drogas menos tóxicas, mais efetivas e mais baratas em comparação às existentes atualmente.

Mesmo com a melhora dos investimentos, tais doenças estão longe de um combate digno de sua importância. Enquanto ações mais efetivas não são realizadas, elas permanecem à espera de melhora das condições financeiras de países em desenvolvimento ou de aumento de sua incidência em países desenvolvidos, estimulando novas pesquisas.

Novos medicamentos desenvolvidos
Entre 1975 e 2004, foram 1.556: em 30 anos, apenas 21 deles foram destinados às doenças negligenciadas.


* Texto extraido da Revista MedAtual

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