segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fisioterapia e Medicina em um mesmo objetivo: a cura

Cada vez mais inseridos no ambiente hospitalar, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva, os profissionais de fisioterapia têm comprovado a eficácia de uma equipe multidisciplinar na recuperação dos pacientes. Distanciando-se do senso comum de que servem apenas para a reabilitação de funções do organismo, recentes pesquisas mostram que a atuação do fisioterapeuta junto ao paciente pode diminuir o tempo de internação, reabilitar o indivíduo ao cotidiano e promover a melhoria de sua qualidade de vida após o período hospitalar. Segundo estudos realizados por Clarice Tanaka, professora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP, as sessões de fisioterapia reduzem em até 40% o tempo de permanência do paciente internado na UTI, desde que haja o acompanhamento sem interrupções nas 24 horas do dia.

No Brasil, embora tenham existido profissionais técnicos especialistas em movimentos do corpo, a profissão de fisioterapeuta é recente. Em 1929, o médico Waldo Rolim de Moraes instalou o serviço de fisioterapia do Instituto Radium Arnaldo Vieira para atender aos pacientes da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Posteriormente, organizou o serviço de fisioterapia do Hospital das Clínicas de São Paulo. 

O Decreto-Lei nº 938, de 13 de outubro de 1969, determinou que o fisioterapeuta é o profissional da área de saúde a quem compete executar métodos e técnicas fisioterápicas, com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente. “O fisioterapeuta tem como objetivo preservar, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos, sistemas ou funções do corpo”, afirma Ronaldo Hiroshi Hioki, fisioterapeuta especialista em RPG. “Como processo terapêutico, o profissional utiliza conhecimentos e recursos próprios, com base nas condições psicofísicossocial, promovendo, aperfeiçoando e adaptando a pessoa a uma melhoria da qualidade de vida.”

Fisioterapia respiratória
Segundo regulamentação da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), um dos quesitos mínimos necessários para o funcionamento de uma UTI é um profissional de fisioterapia para cada dez leitos, revezando entre os turnos matutino, vespertino e noturno, perfazendo um total de 18 horas. Nos hospitais, sua principal área de atuação é na fisioterapia respiratória.

Em expansão, foi essa especialidade que permitiu a entrada do fisioterapeuta nas UTIs. “A partir do momento em que mostramos que temos conhecimentos científicos dos sistemas cardiorrespiratório, neurológico e locomotor, conquistamos espaço dentro dos centros de saúde públicos e privados”, diz Ademilson Pedroza Lago, especialista em fisioterapia respiratória e em UTI. Ainda segundo ele, é função do médico realizar a avaliação e o diagnóstico e indicar os medicamentos necessários para o tratamento. 

E é ele, também, quem prescreve a fisioterapia como um recurso de atuação direta junto ao paciente, com o objetivo de melhorar o tratamento com exercícios e manobras. “Quando temos um paciente muito grave, com risco de vida, ele é entubado e colocado na ventilação mecânica. Nesses casos, nós, junto com o médico, ajustamos os parâmetros da máquina para adequá-la à oxigenação desse paciente”, explica o profissional.

Quando internado, o paciente fica na UTI restrito ao leito. Nessa situação, o pulmão tende a entrar em colapso. Além disso, por ser o hospital um ambiente contaminado, o indivíduo torna-se suscetível a infecções no sistema respiratório, como a broncopneumonia e a pneumonia. “Através da realização de manobras de higiene brônquicas, a tendência é diminuir o risco de contrair essas infecções”, afirma Lago.

O fisioterapeuta que atua nas UTIs também é responsável por ajudar o paciente a conseguir mobilizar a secreção pulmonar que naturalmente tende a se acumular nessas situações. Para isso, ele realiza mudanças de decúbito e manobras de drenagem postural. Assim, com a força da ação da gravidade, consegue-se direcionar o muco pulmonar para a saída por esse tubo. “Além disso, fazemos a tapotagem e a vibrocompressão, que têm por objetivo melhorar a capacidade pulmonar. Assim melhoro a capacidade funcional ventilatória, previno infecções e facilito o desmame da ventilação mecânica”, explica o fisioterapeuta.

Outras especialidades fisioterápicas
Não só a fisioterapia respiratória é aplicada nos hospitais. “Tendemos a priorizar a respiração, mas atendemos de forma global”, afirma Lago. Também são aplicadas técnicas de cinesioterapia, que aliam as atividades pulmonares a exercícios com o aparelho locomotor: “Dessa forma, mobilizo o paciente mais precocemente para ele voltar a ter equilíbrio, sentar e andar, por exemplo”.

Com o cardiopata, são realizados exercícios específicos para reabilitação cardíaca, além da fisioterapia respiratória. “Como o paciente tem uma redução na sua capacidade de realizar exercícios, o fisioterapeuta acompanha o processo de reabilitação moldando o coração do indivíduo e preparando-o para as necessidades que ele terá no decorrer da vida”, explica Lago. Nesse caso, gradualmente, as manobras praticadas ajudam o paciente a sentar e andar pelo quarto, por exemplo, até que ele ganhe capacidade cardíaca e esteja apto novamente a demais atividades.

Em casos neurológicos, além da fisioterapia respiratória, tem início um trabalho de reabilitação com exercícios específicos. Segundo o fisioterapeuta, espera-se que o paciente tenha uma sequela, e, quanto mais cedo aplicar a fisioterapia, a tendência é conseguir uma recuperação mais precoce.

O profissional de fisioterapia também atua juntamente às pessoas com fraturas ou que passaram por cirurgia ortopédica. “Além da fisioterapia respiratória, fazemos exercícios com o objetivo de reabilitar o sistema musculoesquelético molestado com ganho de força e conseguir uma habilitação mais precoce”, explica Lago.

Depois do período hospitalar, o paciente deve manter sua consulta com o fisioterapeuta até a alta. “Sem a assistência fisioterapêutica, ele pode ficar com sequelas motoras que podem comprometer a sua atividade e qualidade de vida”, afirma Hioki. “Alguns médicos ainda são céticos em relação à importância da fisioterapia. No entanto, se houvesse um melhor diálogo entre os profissionais da saúde, a recuperação teria uma resposta melhor e mais rápida.”



* Texto retirado da Revista MedAtual

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