terça-feira, 17 de novembro de 2009

Obesidade: As contradições alimentares entre os jovens brasileiros

Com o objetivo de mapear os índices de desnutrição e obesidade nos jovens paulistas e propor políticas públicas de saúde para diminuir a prevalência desses problemas, uma pesquisa avaliou 9.720 alunos da rede pública de ensino da cidade de São Paulo, entre 11 e 18 anos. 


Dentre os escolares avaliados, metade do sexo masculino e metade do feminino, 11% dos meninos apresentaram desnutrição leve ou moderada e 14% algum grau de obesidade. Os índices entre as meninas foram de 12,7% e 14,9%, respectivamente.


Com relação às faixas etárias, a maior prevalência de alteração do estado de nutrição ocorreu nos escolares de 11 anos de idade. O trabalho começou em 2005, quando mais de 300 professores foram capacitados em três edições de um curso ministrado gratuitamente pelo projeto Avaliação do Estado de Nutrição de Escolares (Aene), do Núcleo de Estudos sobre Obesidade e Exercícios Físicos (Neobe) da Universidade de São Paulo (USP). "De acordo com o currículo escolar, periodicamente o aluno deve ser pesado e medido para que o estado de nutrição dos indivíduos seja analisado de maneira simplificada", disse Cláudia Cezar, pesquisadora responsável pelo trabalho e coordenadora do Neobe/USP, à Agência FAPESP. 


Segundo ela, em geral os professores fazem esse tipo de avaliação no início do ano letivo, apesar de obrigatoriamente não terem que se aprofundar nos cálculos que levam à identificação de alunos obesos ou desnutridos. "Além do peso e da estatura, nesse caso o sexo e a idade dos alunos devem ser levados em conta para a criação de uma tabela individual de biometria, que é o foco do projeto Aene", explica a pesquisadora. 


País necessita de políticas de educação alimentar
Depois de serem diagnosticados pelo projeto, os alunos em risco de obesidade e desnutrição passaram por tratamentos específicos em postos de saúde da capital paulista e os pais foram alertados para o problema. Cláudia ressalta que, apesar de o índice de obesidade do estudo ser baixo do ponto de vista epidemiológico, quando comparado a países como os Estados Unidos o Brasil necessita de políticas de saúde que interfiram na educação alimentar dos jovens. "A prevenção, com a prática regular de exercícios físicos e a alimentação saudável, é a palavra-chave para não chegarmos a índices alarmantes. Quando os adolescentes receberam a informação, a maioria não imaginava que poderia ter o problema, pois a família toda apresentava o mesmo perfil de obesidade ou desnutrição. E o grande problema é justamente quando os indivíduos encaram a questão com normalidade", aponta. 


Os resultados do trabalho foram apresentados na tese de doutorado Avaliação do estado de nutrição de escolares do município de São Paulo: uma experiência multidisciplinar envolvendo professores de educação física do ensino fundamental e médio, que Cláudia defendeu no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Nutrição Humana Aplicada (Pronut) da USP. 


Educação física em aulas teóricas 
Os professores que participaram dos cursos do projeto foram capacitados para implantar técnicas de avaliação do estado de nutrição dos escolares, coletar dados antropométricos de seus alunos, apresentar resultados e sensibilizar pais e responsáveis para a busca por tratamentos, quando necessário. "Os professores passam a trabalhar a educação física em aulas teóricas, onde são discutidos conceitos de beleza, estética, saúde e qualidade de vida. A grande vantagem é que o curso ensina técnicas de avaliação e mostra a importância desse tipo de análise, mas os professores ficam livres para criar metodologias próprias e implementar esses conceitos", disse Cláudia. 


Sistema de vigilância nutricional de escolares
Segundo a pesquisadora, umas das diretrizes do projeto Avaliação do Estado de Nutrição de Escolares é criar um sistema de vigilância nutricional de escolares. "Se boa parte dos professores de educação física de São Paulo, que somam mais de 23 mil em escolas públicas e privadas, fosse capacitada, o Estado poderia servir de referência para a adoção de uma política nacional de qualidade de vida entre os estudantes", aponta. 


Para a pesquisadora do Neobe, o Brasil é carente de estudos que dimensionem a obesidade e a desnutrição infantil de maneira regular. "Se o professor de educação física passar a fazer essa avaliação de maneira sistemática, teríamos um mapa anual com as principais características do problema." A quarta edição do Curso Aene Bem Viver para professores da capital paulista está com as inscrições abertas. O curso é gratuito e estão sendo oferecidas 450 vagas. As aulas ocorrerão uma vez por semana entre os meses de março e novembro. O prazo para as inscrições terminam no dia 28 de fevereiro.

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